As lendas dos vampiros, bruxas e sereias eram antigamente a minha maneira de explorar o desconhecido e o místico, com as suas histórias de vampiros a beberem o sangue até a morte ou sereias a arrastarem a sua presa para o fundo do mar, e à medida que anos passaram, este fascínio agora evolui para questionar como cada cultura desenvolveu estas histórias.
Este fanzine foi desenvolvido como trabalho de faculdade com o objetivo de explorar um traço mais solto e com o propósito também de compreender como ilustrar para um formato de impressão. Com o briefing a nosso critério, decidi mergulhar no mundo destas lendas de criaturas mitológicas, pois queria criar uma estética única que combinava a narrativa visual e a magia da imaginação.
Como desenvolvi a minha estrutura visual
Com tempo limitado para a minha revista, o meu primeiro instinto foi pesquisar quais seriam as lendas que iria representar, e como desenvolver os seus visuais principais para serem reconhecidas, além de ter a preocupação adicional de garantir que cada criatura tinha o seu devido destaque sem comprometer a fluidez da leitura.
Para alcançar uma estrutura que fosse coesa e esteticamente interessante, o fanzine foi dividido em três seções, cada uma sendo exclusiva a cada tema, com 2 páginas dedicadas a cada monstro, resultando num total de 24 páginas para a minha revista.
Esta estruturação do meu projeto permitiu-me, não apenas refletir como estas criaturas eram representadas, mas também a maneira como estas eram retratadas nas suas respectivas culturas, com lendas a retratarem-nos como perigosos como os Strigoi, mencionados como o primeiro registo de vampiros, ou trágicas como a lenda de Iara, a história de uma mulher que foi atirada ao rio e resgatada pelos peixes.
Para reforçar esta distinção visual entre as páginas, explorei uma variação de estilos e traços de forma a reforçar a experiência de cada página. O layout final, desenvolvido para que a pessoa se conecte visualmente com a história das criaturas mitológicas, foi:
- A seção de sereias recebeu uma paleta de cores frias com os verdes e pretos para representar o perigo dos mares com a sua dualidade em ser algo belo, mas igualmente misterioso, remetendo para a sua vasta profundidade.
- As bruxas foram representadas com uma paleta principalmente azul, com toques subtis de laranja e amarelos, de forma a criar contraste visual entre as ilustrações, mas também para representar a dualidade enigmática destas figuras ao serem tão imprevisíveis como nossas amigas.
- A paleta para os vampiros foi uma combinação de tons vermelhos vivos e escuros com a combinação de tons cinza para representar o sangue e o perigo da imortalidade destas figuras.

Técnicas de ilustração
Embora a base do zine fosse feita digitalmente, incorporei elementos físicos, como texturas de papel artesanal. Este contraste entre digital e manual deu ao zine uma dimensão única.



Com as histórias selecionadas, layout explorado, paleta de cores definida e tipografia selecionada, finalmente comecei a ilustrar o meu fanzine.
O meu objetivo sempre manteve o mesmo enquanto abordava cada página, manter uma abordagem que garantia que o texto limitado e a imagem se complementassem sem competir um com o outro, com cada seção a ter o seu próprio ritmo.
No caso das sereias, as páginas eram desenhadas para serem mais abertas, com os espaços negativos mais as cores a serem utilizadas para representar o quão vasto é o mar, e a fluidez das formas para demonstrar os seus movimentos e os do mar, como é no caso da página dedicada às Selkies.
No caso dos vampiros, utilizei composições mais densas, como na lenda de Dearg Due, na qual as suas páginas apenas são compostas por sepulturas, e com um maior contraste para reforçar o drama e o medo associado a cada lenda.
E com o caso das bruxas, remeti-me a utilizar mais espaços vazios e pouco texto porque o meu foco era apenas a personagem para remeter ao clássico “eu crio ao falar” ou como é conhecido “abracadabra”, como é no caso da página dedicada à Kitsune, onde apenas ela é retratada enquanto temos um simples texto que “materializa-se” na página.
Com isso, cada página neste fanzine não se tornou apenas uma peça, mas uma história e experiência imersiva para o leitor neste universo de criaturas mitológicas.
Por que um fanzine de monstros?
A razão pela qual decidi focar-me num fanzine que explorasse estas criaturas de vários lugares no mundo, não só porque o mundo dos vampiros, sereias e bruxas ser um tema de alto interesse para mim, por ser algo que desde pequena achava fascinante, mas também era a oportunidade de analisar as nossas relações com o medo e com a magia com que víamos este mundo.
Este fanzine serviu-me para celebrar e perceber uma nova diversidade cultural ao mostrar como a sociedade molda estas criaturas com as suas ideias e lendas passadas de boca em boca.
- As sereias eram uma representação da dualidade dos nossos medos, mas também do entusiasmo de explorar os mares que nos eram desconhecidos;
- Os vampiros eram uma maneira de refletir no medo que cada pessoa tem sobre a morte e como a imortalidade era ou não um desejo que gostaríamos de ter;
- E as bruxas eram uma maneira de representar o perigo e o desconhecido que não compreendemos ou a liberdade de poder rebelar-se contra o normal;



Explorar estes conceitos de forma visual e textual não só me deu um exercício que, no final, fiquei bastante orgulhosa do seu resultado, mas também deu-me a oportunidade de representar estas narrativas com o meu traço pessoal.

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